sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tempo

Eu queria que o tempo não passasse, que não existisse. Queria poder decidir quando e como o tempo seguisse. Queria voltar no tempo em que era criança, que comia bolinho de chuva todas as tardes, na casa da bachanzinha. Me lembro dela, sentada na maquina de costura, na cozinha fazendo almoço, no quintal recolhendo roupa. Minha bachanzinha escondia o riso cobrindo a boca, como todas as japonesas. Eu não fui uma boa neta, muitas vezes fugia da cozinha pra não enxugar a louça, reclamava quando ela demorava pra lavar as panelas. Minha bachanzinha me ensinou a bordar, a fazer croche e cachecol de trico. O tempo passou tão rapido que hoje, só me resta a saudade e a vontade de ter feito mais, muito mais pra ficar ao lado dela. Queria ter tido mais paciencia pra escutar as historias contadas e recontadas milhões de vezes. Queria ter aprendido japones com ela. Queria ter conversado em japones com ela. Queria ter partilhado minha experiencia no Japão, queria ter ido a Yamagata e andar pelas ruas por onde ela passou. Queria ter respirado o ar que um dia foi dela. Eu vou ser bachan e talvez um dia, meu neto estará recontando esta historia. O tempo ensina que ele é precioso e que não tem volta, que só pode ser vivido uma vez. O tempo ensina que se voce quer fazer algo, tem que fazer agora, que segunda chance não existe. Se voce quer dizer "eu te amo", diga já, porque talvez a pessoa já tenha partido quando se decidir a falar. Quero ensinar ao meu neto o idioma japones, quero que ele conheça a cultura que tanto aprendi a admirar. Se for uma netinha, vou ensina-la a bordar, a costurar, a fazer bolinho de chuva. Amanda... o tempo passou pra nós também e espero que a gente ainda tenha muito pra viver. Eu amo você e amo esse serzinho que tá aí dentro. Bazinha, arigatou, honto ni arigatou.